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Plantão Médico: Orientações para Médicos Pessoa Jurídica - Direitos, Deveres e Responsabilidades

  • Foto do escritor: Ricardo Stival
    Ricardo Stival
  • há 4 dias
  • 23 min de leitura

O plantão médico no Brasil passou por uma transformação radical nas últimas décadas. Hoje, mais de 95% dos médicos plantonistas são contratados como pessoa jurídica (PJ), uma realidade que mudou completamente o cenário de direitos, deveres e responsabilidades destes profissionais. Esta mudança não foi apenas uma questão de modalidade contratual, mas representou uma revolução na forma como os médicos se relacionam com as instituições de saúde e como devem se proteger juridicamente.



Como profissional que atua há anos orientando médicos sobre questões relacionadas ao plantão médico, tenho observado que muitos colegas ainda não compreenderam completamente as implicações desta nova realidade. A transição do regime CLT para a contratação PJ trouxe maior flexibilidade, mas também transferiu uma série de responsabilidades e riscos que antes eram da instituição empregadora para o próprio médico.


Este guia foi desenvolvido especificamente para a realidade do médico plantonista pessoa jurídica. Reconheço que as informações disponíveis sobre plantão médico frequentemente ainda se baseiam no modelo CLT, que hoje representa uma parcela mínima dos contratos. Esta defasagem de informação tem gerado confusão e deixado muitos médicos vulneráveis a situações que poderiam ser evitadas com conhecimento adequado.


A contratação como pessoa jurídica traz particularidades únicas que todo médico plantonista deve conhecer. Desde questões tributárias e previdenciárias até aspectos de responsabilidade civil e proteção patrimonial, o médico PJ enfrenta desafios específicos que exigem conhecimento especializado e planejamento adequado.


Ao longo deste guia, abordarei desde os conceitos fundamentais da contratação PJ até as situações mais complexas que podem surgir no cotidiano do plantão. Meu objetivo é que você compreenda não apenas seus direitos e deveres como médico plantonista, mas também como se proteger adequadamente nesta modalidade contratual que se tornou predominante no mercado.


A medicina de urgência e emergência continua sendo uma especialidade que salva vidas, mas a realidade da contratação PJ trouxe novos riscos e responsabilidades que devem ser adequadamente compreendidos e gerenciados. Este guia representa meu compromisso em contribuir para que os médicos plantonistas possam exercer sua função com segurança, conhecimento e tranquilidade na era da pessoa jurídica.


A Transformação do Mercado de Plantões


A predominância da contratação de médicos plantonistas como pessoa jurídica não foi um acaso, mas resultado de uma série de fatores econômicos, tributários e operacionais que tornaram esta modalidade mais atrativa tanto para médicos quanto para instituições de saúde. Compreender esta transformação é fundamental para entender a realidade atual do mercado de plantões.


Do ponto de vista das instituições de saúde, a contratação PJ oferece maior flexibilidade operacional e redução significativa de custos trabalhistas. Não há necessidade de pagamento de férias, 13º salário, FGTS, ou outros encargos trabalhistas. Além disso, a rescisão contratual é mais simples e não gera os custos típicos de uma demissão CLT.


Para os médicos, a contratação PJ inicialmente representou a possibilidade de maior remuneração líquida, considerando que os valores pagos por plantão como PJ são tipicamente superiores aos valores CLT, mesmo descontando-se os tributos devidos. Além disso, oferece maior flexibilidade para trabalhar em múltiplas instituições simultaneamente.


No entanto, esta transformação também transferiu uma série de responsabilidades e riscos para o médico. Questões como contribuição previdenciária, seguro de responsabilidade civil, planejamento tributário, e proteção patrimonial passaram a ser de responsabilidade exclusiva do profissional, exigindo conhecimento e planejamento que muitos não possuíam.


A regulamentação desta modalidade contratual ainda é objeto de discussões e mudanças legislativas. Projetos de lei têm sido propostos para regular a "pejotização" da medicina, mas até o momento a contratação PJ permanece como a modalidade predominante no mercado de plantões.


Vantagens e Desvantagens da Contratação PJ


A contratação como pessoa jurídica apresenta vantagens e desvantagens que devem ser cuidadosamente avaliadas por cada médico plantonista. A compreensão adequada destes aspectos é fundamental para tomar decisões informadas sobre a carreira e o planejamento financeiro.


Entre as principais vantagens da contratação PJ está a maior remuneração líquida. Os valores pagos por plantão como PJ são tipicamente 30% a 50% superiores aos valores CLT, mesmo considerando os tributos devidos. Esta diferença compensa, na maioria dos casos, a ausência dos benefícios trabalhistas tradicionais.


A flexibilidade é outra vantagem significativa. O médico PJ pode trabalhar em múltiplas instituições simultaneamente, diversificar suas fontes de renda, e ter maior autonomia na organização de sua agenda. Não há limitações de jornada de trabalho como no regime CLT, permitindo maior volume de plantões quando desejado.


O planejamento tributário também oferece vantagens para o médico PJ. Dependendo do regime tributário escolhido (Simples Nacional, Lucro Presumido, ou Lucro Real), é possível otimizar a carga tributária e ter maior controle sobre os tributos pagos.


No entanto, as desvantagens são significativas e devem ser cuidadosamente consideradas. A ausência de estabilidade é uma das principais preocupações. Contratos PJ podem ser rescindidos a qualquer momento, sem aviso prévio ou indenização, deixando o médico sem fonte de renda imediata.


A responsabilidade previdenciária é integralmente do médico PJ. É necessário contribuir adequadamente para o INSS como contribuinte individual ou aderir a um plano de previdência privada para garantir aposentadoria adequada. Muitos médicos negligenciam esta questão e podem enfrentar problemas futuros.


A ausência de benefícios trabalhistas como férias remuneradas, 13º salário, e FGTS exige planejamento financeiro mais rigoroso. O médico PJ deve reservar recursos para períodos de descanso e criar sua própria reserva de emergência.


Aspectos Tributários Fundamentais


O planejamento tributário adequado é fundamental para o sucesso financeiro do médico plantonista pessoa jurídica. A escolha do regime tributário correto pode representar diferenças significativas na carga tributária total, impactando diretamente a rentabilidade da atividade.


O Simples Nacional é frequentemente a opção mais vantajosa para médicos com faturamento anual de até R$ 4,8 milhões. Para atividades médicas, a alíquota varia entre 6% e 17,42% sobre o faturamento, dependendo da faixa de receita. Este regime unifica diversos tributos em uma única guia, simplificando significativamente as obrigações tributárias.


O Lucro Presumido pode ser vantajoso para médicos com faturamento superior ao limite do Simples Nacional ou em situações específicas onde a margem de lucro real é superior à presumida pela legislação. Neste regime, presume-se que 32% da receita bruta representa lucro, sobre o qual incidem Imposto de Renda e Contribuição Social.


O Lucro Real é obrigatório para empresas com faturamento anual superior a R$ 78 milhões, mas pode ser optativo em outros casos. Neste regime, o imposto incide sobre o lucro efetivamente apurado, o que pode ser vantajoso quando há custos significativos que reduzem a base de cálculo.


Além dos tributos federais, o médico PJ deve considerar também o ISS (Imposto Sobre Serviços), que é municipal e varia entre 2% e 5% conforme a cidade. Algumas cidades oferecem alíquotas reduzidas para profissionais da saúde, sendo importante verificar a legislação local.


A contribuição previdenciária do médico PJ é de 20% sobre o salário de contribuição, limitado ao teto do INSS. Para quem deseja contribuir sobre valores superiores ao teto, é necessário aderir a um plano de previdência privada complementar.


Questões Previdenciárias Específicas

A questão previdenciária é uma das mais críticas para o médico plantonista pessoa jurídica, pois a responsabilidade pela contribuição e pelo planejamento da aposentadoria é integralmente do profissional. Muitos médicos PJ negligenciam este aspecto e podem enfrentar sérios problemas no futuro.


O médico PJ deve contribuir para o INSS como contribuinte individual, recolhendo 20% sobre o salário de contribuição escolhido, respeitando o limite mínimo (salário mínimo) e máximo (teto do INSS). Esta contribuição garante direito a aposentadoria, auxílio-doença, auxílio-acidente, e outros benefícios previdenciários.


É importante compreender que a contribuição como PJ não gera direito a seguro-desemprego, salário-família, ou outros benefícios específicos do regime CLT. O planejamento deve considerar estas ausências e buscar alternativas adequadas.


Para médicos com renda superior ao teto do INSS, é fundamental considerar a previdência privada complementar. A aposentadoria pelo INSS pode ser insuficiente para manter o padrão de vida desejado, especialmente considerando que médicos frequentemente têm renda elevada durante a vida ativa.


A contribuição previdenciária deve ser feita mensalmente, mesmo nos meses em que não há faturamento. A falta de contribuição pode gerar carência para benefícios e prejudicar o tempo de contribuição para aposentadoria.


Médicos que trabalham simultaneamente como PJ e CLT devem atentar para as regras de contribuição em ambos os regimes, evitando contribuições desnecessárias ou insuficientes.


Direitos e Garantias do Médico PJ


Embora o médico pessoa jurídica não tenha os direitos trabalhistas tradicionais do regime CLT, possui direitos contratuais específicos que devem ser conhecidos e exigidos. Estes direitos derivam do contrato de prestação de serviços e da legislação civil aplicável às relações contratuais.


O direito à remuneração adequada e pontual é fundamental. O contrato deve estabelecer claramente os valores a serem pagos, os prazos de pagamento, e as condições para reajustes. Atrasos no pagamento podem gerar direito a juros e correção monetária, conforme previsto no contrato ou na legislação civil.


O direito a condições adequadas de trabalho permanece válido mesmo na contratação PJ. A instituição contratante deve fornecer instalações adequadas, equipamentos funcionais, materiais necessários, e ambiente seguro para o exercício da atividade médica. A ausência destas condições pode justificar a rescisão contratual por parte do médico.


O direito ao descanso durante plantões longos também se mantém, baseado não apenas em questões contratuais, mas em normas éticas e de segurança do paciente. Plantões superiores a 6 horas devem prever períodos de descanso adequados, conforme estabelecido pelas resoluções dos Conselhos de Medicina.


O direito à autonomia técnica é fundamental e deve ser preservado independentemente da modalidade contratual. O médico PJ mantém total autonomia para suas decisões clínicas, não podendo sofrer interferência da instituição contratante em questões técnicas relacionadas ao atendimento dos pacientes.


Proteção Contra Rescisão Abusiva

Embora os contratos PJ possam ser rescindidos mais facilmente que os contratos CLT, existem proteções contra rescisões abusivas ou discriminatórias que o médico deve conhecer. A legislação civil oferece instrumentos para questionar rescisões que violem princípios contratuais fundamentais.


Contratos com prazo determinado não podem ser rescindidos unilateralmente antes do vencimento, salvo por justa causa ou acordo entre as partes. A rescisão antecipada sem justificativa pode gerar direito a indenização pelos prejuízos causados.


Rescisões motivadas por discriminação (idade, sexo, raça, religião, orientação sexual) ou por exercício de direitos legítimos (como denúncia de irregularidades éticas) podem ser questionadas judicialmente, mesmo em contratos PJ.


A boa-fé contratual exige que a rescisão seja comunicada com antecedência razoável, especialmente em contratos de longa duração. Rescisões abruptas que causem prejuízos desproporcionais ao médico podem gerar responsabilidade civil da instituição.


É importante documentar adequadamente as circunstâncias da rescisão e manter registros de comunicações que possam evidenciar eventual abuso ou discriminação.


Direito a Ambiente de Trabalho Seguro

O direito a um ambiente de trabalho seguro não é exclusivo dos empregados CLT, aplicando-se também aos prestadores de serviços pessoa jurídica. As instituições de saúde têm responsabilidade de fornecer condições seguras para todos os profissionais que atuam em suas dependências.


A segurança biológica é fundamental em ambientes hospitalares. A instituição deve fornecer equipamentos de proteção individual adequados, implementar protocolos de controle de infecção, e garantir treinamento sobre medidas de segurança. O médico PJ tem direito a estes recursos independentemente de sua modalidade contratual.


A segurança física também deve ser garantida, especialmente em serviços que atendem situações de violência ou que estão localizados em áreas de risco. Sistemas de segurança, controle de acesso, e protocolos de emergência devem estar disponíveis para todos os profissionais.


A notificação de acidentes de trabalho deve ser realizada mesmo para médicos PJ, através da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) ou outros instrumentos adequados. Esta notificação é importante para fins estatísticos e pode ser relevante para questões de seguro ou responsabilidade civil.


Direitos Relacionados à Documentação e Registros


O médico PJ tem direito de acesso a todos os documentos e registros relacionados à sua atividade profissional na instituição. Este acesso é fundamental tanto para o exercício adequado da medicina quanto para eventual defesa em processos éticos ou judiciais.


O acesso aos prontuários dos pacientes atendidos deve ser garantido, respeitando-se as normas de confidencialidade médica. Este acesso é essencial para a continuidade do cuidado e para eventual necessidade de esclarecimentos sobre condutas adotadas.


Cópias de contratos, aditivos, e outros documentos contratuais devem ser fornecidas ao médico. É recomendável manter arquivo organizado de toda a documentação contratual para eventual necessidade futura.


Registros de pagamentos, notas fiscais, e outros documentos financeiros devem ser adequadamente organizados e mantidos pelo médico PJ, tanto para fins tributários quanto para comprovação de renda em situações específicas.


Deveres e Responsabilidades Específicas do Médico PJ


A contratação como pessoa jurídica não altera em nada as responsabilidades éticas do médico plantonista. O Código de Ética Médica aplica-se integralmente, independentemente da modalidade contratual, e suas violações podem gerar as mesmas penalidades previstas para qualquer médico.


O dever de não abandono do plantão mantém-se inalterado. O artigo 9º do Código de Ética Médica continua vedando ao médico deixar de comparecer a plantão em horário preestabelecido ou abandoná-lo sem a presença de substituto, salvo por justo impedimento. A modalidade PJ não oferece maior flexibilidade neste aspecto.


A obrigação de atender todos os pacientes que procurem o serviço durante o plantão permanece integral. O médico PJ não pode recusar atendimento com base em questões contratuais ou financeiras, devendo prestar assistência a todos os casos que se apresentem.


A passagem de plantão obrigatória, médico a médico, continua sendo exigida conforme a Resolução CFM 2.077/14. Esta responsabilidade não pode ser delegada e deve incluir informações completas sobre todos os pacientes em atendimento.


O registro adequado em prontuários mantém sua importância fundamental. O médico PJ deve documentar adequadamente todos os atendimentos, identificando-se claramente e fornecendo informações completas sobre as condutas adotadas.


Responsabilidades Tributárias e Contábeis

O médico PJ assume responsabilidades tributárias e contábeis específicas que não existem no regime CLT. O cumprimento adequado destas obrigações é fundamental para evitar problemas com a Receita Federal e outros órgãos fiscalizadores.


A emissão de notas fiscais é obrigatória para todos os serviços prestados. As notas devem ser emitidas corretamente, com descrição adequada dos serviços, valores corretos, e dentro dos prazos estabelecidos pela legislação. Erros na emissão podem gerar multas e complicações tributárias.


O recolhimento dos tributos deve ser feito pontualmente, conforme o regime tributário escolhido. Atrasos geram multas e juros que podem comprometer significativamente a rentabilidade da atividade. É recomendável manter calendário tributário atualizado e reservar recursos para pagamento dos tributos.


A escrituração contábil adequada é fundamental, especialmente para médicos no Lucro Presumido ou Lucro Real. Mesmo no Simples Nacional, é recomendável manter controles adequados de receitas e despesas para fins de planejamento e eventual fiscalização.

A Declaração de Imposto de Renda pessoa física deve incluir adequadamente os rendimentos da pessoa jurídica, conforme as regras específicas para cada regime tributário. Erros nesta declaração podem gerar problemas com a Receita Federal.


Responsabilidades Previdenciárias

A responsabilidade previdenciária do médico PJ é integral e não pode ser negligenciada. O planejamento adequado da aposentadoria e a contribuição regular para o INSS são fundamentais para garantir segurança financeira futura.


A contribuição mensal para o INSS deve ser feita mesmo nos meses sem faturamento, para manter a regularidade contributiva e evitar perda de carência para benefícios. O valor da contribuição pode variar conforme a renda, mas deve respeitar os limites mínimo e máximo estabelecidos.


O planejamento da aposentadoria deve considerar que o médico PJ não tem direito ao FGTS e outros benefícios trabalhistas que poderiam complementar a renda na aposentadoria. É fundamental criar reservas próprias e considerar previdência privada complementar.


A documentação das contribuições deve ser mantida adequadamente, incluindo comprovantes de pagamento e extratos do CNIS (Cadastro Nacional de Informações Sociais). Estes documentos podem ser fundamentais para comprovar tempo de contribuição e valores recolhidos.


Responsabilidades de Seguro e Proteção

O médico PJ deve assumir integralmente a responsabilidade por sua proteção através de seguros adequados. Diferentemente do empregado CLT, que pode contar com seguros fornecidos pelo empregador, o médico PJ deve contratar suas próprias proteções.


O seguro de responsabilidade civil profissional é altamente recomendável, especialmente considerando que o médico PJ pode ter maior exposição patrimonial em caso de processos de responsabilização. Este seguro pode cobrir indenizações e custos de defesa em processos judiciais.


O seguro de vida e invalidez também deve ser considerado, especialmente para médicos que são a principal fonte de renda familiar. A ausência de estabilidade empregatícia torna esta proteção ainda mais importante.

Seguros de saúde e odontológicos devem ser contratados individualmente, já que não há obrigação da instituição contratante de fornecer estes benefícios. O planejamento deve considerar os custos destes seguros no orçamento mensal.


Responsabilidades Contratuais Específicas

O médico PJ deve cumprir rigorosamente todas as cláusulas contratuais estabelecidas, sob pena de rescisão por justa causa ou responsabilização por perdas e danos. A leitura cuidadosa e o cumprimento integral do contrato são fundamentais.


O cumprimento de horários e escalas deve ser rigoroso. Atrasos ou faltas não justificadas podem gerar penalidades contratuais e até rescisão. É importante comunicar qualquer impossibilidade de comparecimento com a maior antecedência possível.


A exclusividade, quando prevista em contrato, deve ser respeitada integralmente. Violações de cláusulas de exclusividade podem gerar responsabilização civil e rescisão contratual. É importante negociar adequadamente estas cláusulas antes da assinatura.


A confidencialidade de informações da instituição deve ser mantida, conforme previsto em cláusulas específicas do contrato. Vazamento de informações confidenciais pode gerar responsabilização civil e criminal.

O cumprimento de normas internas da instituição também é obrigatório, desde que não conflitem com normas éticas ou técnicas da medicina. É importante conhecer adequadamente o regulamento interno antes de iniciar as atividades.


Responsabilidade Civil e Criminal do Médico PJ


A responsabilidade civil do médico pessoa jurídica apresenta particularidades importantes que diferem da responsabilidade do médico empregado CLT. Compreender estas diferenças é fundamental para adequada proteção jurídica e patrimonial.


No regime PJ, o médico atua como prestador de serviços autônomo, o que pode implicar em maior responsabilidade direta pelos danos causados aos pacientes. Diferentemente do empregado CLT, que pode contar com a responsabilidade solidária do empregador, o médico PJ pode enfrentar maior exposição patrimonial pessoal.


A responsabilidade da instituição de saúde pelos atos do médico PJ é tema controverso na jurisprudência. Alguns tribunais entendem que a instituição responde objetivamente pelos serviços prestados em suas dependências, independentemente da modalidade contratual do médico. Outros consideram que a contratação PJ afasta a responsabilidade institucional, deixando o médico como único responsável.


Esta incerteza jurisprudencial torna ainda mais importante que o médico PJ adote medidas preventivas adequadas, incluindo documentação rigorosa de todos os atendimentos, busca por segunda opinião em casos complexos, e contratação de seguro de responsabilidade civil profissional.


A responsabilidade civil do médico PJ pode ser agravada em situações onde há aparente subordinação ou integração às atividades da instituição, caracterizando eventual "falsa pejotização". Nestes casos, a Justiça pode reconhecer vínculo empregatício e aplicar as regras de responsabilidade do regime CLT.


Proteção Patrimonial Específica

A proteção patrimonial do médico PJ exige planejamento específico, considerando que sua exposição pode ser maior que a do médico empregado. Estratégias adequadas de proteção podem minimizar riscos e preservar o patrimônio familiar.


A separação entre patrimônio pessoal e empresarial é fundamental, embora limitada no caso de empresas individuais ou sociedades unipessoais. Mesmo assim, manter contas bancárias separadas e não misturar despesas pessoais e empresariais é importante para eventual defesa.


A contratação de seguro de responsabilidade civil profissional com cobertura adequada é uma das principais medidas de proteção. Este seguro deve cobrir não apenas indenizações, mas também custos de defesa, que podem ser significativos em processos complexos.


O planejamento sucessório também deve considerar a atividade profissional como PJ. Testamentos e outras disposições devem prever a continuidade ou encerramento adequado da pessoa jurídica em caso de falecimento ou incapacidade.


A constituição de holdings familiares ou outras estruturas de proteção patrimonial pode ser considerada para médicos com patrimônio significativo, sempre com orientação jurídica e tributária especializada.


Responsabilidade Criminal Inalterada

A responsabilidade criminal do médico não é alterada pela modalidade contratual PJ. Os crimes contra a vida, lesões corporais, omissão de socorro, e outros tipos penais aplicáveis à atividade médica mantêm-se inalterados independentemente do regime de contratação.


A caracterização de crimes culposos (negligência, imprudência, imperícia) segue os mesmos critérios para médicos PJ e CLT. A modalidade contratual não influencia a análise da conduta médica para fins de responsabilização criminal.


A omissão de socorro mantém-se como crime específico, aplicável quando o médico deixa de prestar assistência a paciente em situação de risco, podendo fazê-lo sem risco pessoal. A contratação PJ não altera esta responsabilidade.


A documentação adequada dos atendimentos é ainda mais importante para o médico PJ, considerando que pode não contar com o apoio institucional para sua defesa em processos criminais. Registros completos e contemporâneos são fundamentais para demonstrar a adequação da conduta médica.


Medidas Preventivas Específicas para Médicos PJ

O médico PJ deve adotar medidas preventivas específicas para reduzir sua exposição a riscos de responsabilização civil e criminal. Estas medidas vão além das precauções normais da prática médica e consideram as particularidades da contratação PJ.


A documentação rigorosa de todos os atendimentos é fundamental. O médico PJ deve manter registros ainda mais detalhados que o médico empregado, incluindo não apenas informações clínicas, mas também comunicações com a instituição sobre limitações de recursos ou condições inadequadas.


A comunicação formal de deficiências estruturais ou de recursos deve ser feita por escrito, com protocolo de recebimento. Estas comunicações podem ser fundamentais para demonstrar que eventuais resultados adversos decorreram de limitações institucionais, não de falhas do médico.


A busca por segunda opinião em casos complexos deve ser documentada adequadamente. Consultorias com especialistas, mesmo que informais, devem ser registradas no prontuário, demonstrando o cuidado do médico em buscar a melhor conduta para o paciente.


A participação em atividades de educação continuada deve ser documentada e mantida em arquivo pessoal. Certificados de cursos, congressos, e outras atividades educativas podem ser importantes para demonstrar a manutenção da competência técnica.


A contratação de assessoria jurídica especializada em direito médico é recomendável, especialmente para médicos que atuam em áreas de maior risco. Esta assessoria pode fornecer orientações preventivas e defesa adequada em eventuais processos.


Aspectos Práticos do Plantão para Médicos PJ


A negociação de contratos é uma habilidade fundamental para o médico PJ, que deve compreender não apenas os aspectos médicos de sua atividade, mas também os aspectos comerciais e jurídicos envolvidos na prestação de serviços.


A definição de valores deve considerar não apenas a remuneração bruta, mas todos os custos envolvidos na atividade PJ. Tributos, contribuições previdenciárias, seguros, custos contábeis, e reservas para períodos sem trabalho devem ser considerados no cálculo da viabilidade financeira.


Os prazos de pagamento devem ser negociados adequadamente, considerando o fluxo de caixa da atividade PJ. Prazos muito longos podem comprometer a liquidez, especialmente para médicos que dependem exclusivamente dos plantões para sua renda.


As cláusulas de reajuste devem ser claras e baseadas em índices objetivos. A ausência de critérios claros para reajuste pode resultar em defasagem da remuneração ao longo do tempo, comprometendo a rentabilidade da atividade.


A exclusividade deve ser cuidadosamente avaliada. Cláusulas de exclusividade podem limitar significativamente a capacidade de diversificação de renda, devendo ser compensadas por valores adequados e garantias contratuais específicas.


Gestão Financeira Específica

A gestão financeira do médico PJ exige disciplina e planejamento específicos, considerando a irregularidade típica dos recebimentos e a necessidade de reservas para tributos e períodos sem trabalho.


A separação de contas bancárias entre pessoa física e jurídica é fundamental, não apenas para fins tributários, mas também para melhor controle financeiro. Misturar recursos pessoais e empresariais pode gerar complicações tributárias e dificultar o planejamento.


A reserva para tributos deve ser feita mensalmente, preferencialmente em conta separada. Os tributos devem ser provisionados no momento do faturamento, evitando surpresas no momento do pagamento.


A reserva para períodos sem trabalho é fundamental, considerando que contratos PJ podem ser rescindidos a qualquer momento. Recomenda-se manter reserva equivalente a pelo menos 6 meses de despesas pessoais e empresariais.


O controle de despesas dedutíveis deve ser rigoroso, especialmente para médicos no Lucro Real. Despesas com educação continuada, literatura médica, equipamentos, e outras relacionadas à atividade profissional podem ser deduzidas, reduzindo a base de cálculo dos tributos.


Relacionamento com Múltiplas Instituições

A possibilidade de trabalhar em múltiplas instituições é uma das vantagens da contratação PJ, mas exige gestão cuidadosa para evitar conflitos e garantir qualidade em todos os locais de trabalho.


A organização da agenda deve considerar deslocamentos, tempo de descanso entre plantões, e possíveis conflitos de horário. Sobreposições de plantões ou jornadas excessivas podem comprometer a qualidade do atendimento e gerar riscos de responsabilização.


A padronização de procedimentos entre diferentes instituições pode ser desafiadora, especialmente quando há protocolos conflitantes. É importante conhecer adequadamente as normas de cada local e adaptar-se adequadamente a cada ambiente.


A gestão de conflitos de interesse deve ser cuidadosa, especialmente quando há competição entre as instituições contratantes. Informações confidenciais de uma instituição não devem ser compartilhadas com concorrentes.


A manutenção de relacionamentos profissionais adequados em todas as instituições é fundamental para a continuidade dos contratos. Conflitos em uma instituição não devem afetar o relacionamento com outras.


Planejamento de Carreira e Aposentadoria

O planejamento de carreira do médico PJ deve considerar a ausência de estabilidade típica do regime CLT e a necessidade de construção autônoma de reservas para aposentadoria.


A diversificação de fontes de renda é fundamental para reduzir riscos. Dependência excessiva de uma única instituição pode gerar vulnerabilidade financeira em caso de rescisão contratual.


O desenvolvimento de especialização ou diferenciação profissional pode aumentar o valor de mercado e reduzir a substituibilidade. Médicos com qualificações específicas tendem a ter maior estabilidade e melhores remunerações.


A construção de reservas para aposentadoria deve começar cedo, considerando que a contribuição para o INSS pode ser insuficiente para manter o padrão de vida desejado. Previdência privada, investimentos, e outras formas de poupança devem ser consideradas.


O planejamento sucessório deve considerar a continuidade ou encerramento da pessoa jurídica. Testamentos e outras disposições devem prever adequadamente o destino da empresa e de seus contratos.


Tecnologia e Ferramentas de Gestão

O médico PJ deve utilizar ferramentas tecnológicas adequadas para gestão de sua atividade, considerando aspectos financeiros, tributários, e operacionais.


Sistemas de gestão financeira específicos para profissionais liberais podem facilitar o controle de receitas, despesas, e obrigações tributárias. Estes sistemas frequentemente incluem funcionalidades para emissão de notas fiscais e cálculo de tributos.


Aplicativos de agenda e organização podem ajudar na gestão de múltiplos plantões e compromissos. A sincronização entre diferentes dispositivos é importante para evitar conflitos de horário.


Sistemas de backup e segurança de dados são fundamentais, especialmente para informações financeiras e tributárias. A perda de dados pode gerar complicações significativas com órgãos fiscalizadores.


A utilização de assinatura digital pode agilizar processos contratuais e reduzir custos operacionais. Certificados digitais adequados permitem assinatura de contratos e documentos com validade jurídica.


Perguntas e Respostas Frequentes para Médicos PJ


Como profissional que atua há anos orientando médicos sobre questões relacionadas ao plantão médico na modalidade PJ, compilei as dúvidas mais comuns que recebo. Estas perguntas refletem as preocupações reais dos médicos plantonistas pessoa jurídica.


1. É obrigatório ter CNPJ para fazer plantões?

Atualmente, sim. Mais de 95% das instituições contratam médicos plantonistas apenas como pessoa jurídica. Ter CNPJ tornou-se praticamente obrigatório para atuar no mercado de plantões. O processo de abertura é relativamente simples e pode ser feito online.


2. Qual regime tributário devo escolher para minha empresa?

Para a maioria dos médicos plantonistas, o Simples Nacional é a opção mais vantajosa, com alíquotas entre 6% e 17,42% sobre o faturamento. Apenas considere Lucro Presumido se seu faturamento exceder R$ 4,8 milhões anuais ou em situações específicas que devem ser analisadas com contador especializado.


3. Preciso de contador obrigatoriamente?

Embora não seja obrigatório para empresas no Simples Nacional, é altamente recomendável. Um contador especializado em médicos pode otimizar sua carga tributária, evitar erros custosos, e manter suas obrigações em dia. O investimento se paga facilmente.


4. Como fica minha aposentadoria sendo PJ?

Você deve contribuir para o INSS como contribuinte individual (20% sobre o salário de contribuição). Como a aposentadoria pelo INSS pode ser insuficiente, recomendo fortemente considerar previdência privada complementar. Planeje desde cedo.


5. Posso ser demitido a qualquer momento sendo PJ?

Sim, contratos PJ podem ser rescindidos mais facilmente que contratos CLT. Por isso é fundamental diversificar suas fontes de renda, manter reservas financeiras, e construir bom relacionamento profissional em múltiplas instituições.


6. Preciso de seguro de responsabilidade civil?

Altamente recomendável. Como médico PJ, você pode ter maior exposição patrimonial em processos de responsabilização. Um seguro adequado pode cobrir indenizações e custos de defesa, protegendo seu patrimônio pessoal.


7. Como funciona o pagamento de férias sendo PJ?

Não existe férias remuneradas para PJ. Você deve planejar financeiramente seus períodos de descanso, reservando recursos durante os meses de trabalho. Muitos médicos reservam 8,33% do faturamento mensal para este fim.


8. Posso deduzir despesas médicas da minha empresa?

Sim, despesas relacionadas à atividade profissional podem ser deduzidas, como cursos, livros, equipamentos, e até parte das despesas com veículo usado para trabalho. Mantenha todos os comprovantes organizados.


9. Como emitir nota fiscal corretamente?

A nota fiscal deve ser emitida para cada plantão realizado, com descrição adequada dos serviços, valores corretos, e dentro dos prazos legais. Muitos contadores oferecem sistemas online que facilitam este processo.


10. Posso trabalhar em várias instituições simultaneamente?

Sim, esta é uma das vantagens da contratação PJ. Porém, verifique se não há cláusulas de exclusividade em seus contratos e organize bem sua agenda para evitar conflitos de horário e fadiga excessiva.


11. O que acontece se eu ficar doente e não puder trabalhar?

Como PJ, você não tem direito a auxílio-doença automático. Deve contribuir adequadamente para o INSS para ter direito ao benefício, e considerar seguros de renda por incapacidade. A ausência de renda durante doença é um risco real.


12. Como negociar valores de plantão?

Considere todos os custos da atividade PJ: tributos (6% a 17%), contribuição previdenciária (20%), contador, seguros, e reservas. O valor líquido deve ser superior ao que receberia como CLT para compensar a ausência de benefícios.


13. Posso ter outros tipos de renda além dos plantões?

Sim, a pessoa jurídica pode prestar outros serviços médicos como consultas, procedimentos, ou até atividades não médicas, dependendo do objeto social da empresa. Diversificar renda é sempre recomendável.


14. Como fica o FGTS sendo PJ?

Não existe FGTS para PJ. Você deve criar sua própria reserva de emergência, idealmente equivalente a 6-12 meses de despesas. Esta disciplina financeira é fundamental para sua segurança.


15. Preciso declarar Imposto de Renda pessoa física?

Sim, você deve declarar tanto pessoa física quanto jurídica. Os rendimentos da PJ devem ser informados adequadamente na declaração de pessoa física, conforme o regime tributário escolhido.


16. Posso contratar funcionários para minha empresa médica?

Sim, mas avalie cuidadosamente os custos trabalhistas envolvidos. Para a maioria dos médicos plantonistas, contratar funcionários não é necessário nem vantajoso financeiramente.


17. Como funciona a rescisão de contrato PJ?

Geralmente é mais simples que CLT, mas deve seguir o que está previsto no contrato. Alguns contratos preveem aviso prévio ou multas rescisórias. Leia sempre o contrato antes de assinar.


18. Posso transformar minha PJ em sociedade com outros médicos?

Sim, sociedades médicas podem ser vantajosas para dividir custos e riscos. Porém, exigem planejamento cuidadoso e contratos bem elaborados para evitar conflitos futuros.


19. Como me proteger de calotes?

Diversifique suas fontes de renda, pesquise a reputação das instituições antes de contratar, mantenha documentação em dia, e considere seguros de recebimento quando disponíveis.


20. Vale a pena ser PJ comparado a CLT?

Para a maioria dos médicos plantonistas, sim. A remuneração líquida costuma ser superior e há maior flexibilidade. Porém, exige disciplina financeira, planejamento, e conhecimento sobre gestão empresarial.



Rotina Prática do Médico Plantonista


A realidade da contratação PJ transformou completamente o cenário dos plantões médicos no Brasil. Esta mudança trouxe oportunidades significativas, como maior remuneração e flexibilidade, mas também transferiu responsabilidades e riscos que antes eram das instituições para os próprios médicos.


Após anos orientando médicos plantonistas nesta nova realidade, posso afirmar que o sucesso como médico PJ depende fundamentalmente de três pilares: conhecimento, planejamento e disciplina. Conhecimento sobre aspectos tributários, previdenciários e contratuais; planejamento financeiro e de carreira adequado; e disciplina para manter reservas e cumprir obrigações.


A ausência de estabilidade típica do regime CLT exige que o médico PJ desenvolva uma mentalidade empresarial, diversificando fontes de renda, construindo relacionamentos profissionais sólidos, e mantendo-se constantemente atualizado tanto técnica quanto administrativamente.


É fundamental compreender que ser médico PJ não significa apenas trocar CLT por CNPJ. Significa assumir integralmente a gestão de sua carreira, seus riscos, e seu futuro financeiro. Esta responsabilidade pode ser intimidante inicialmente, mas oferece oportunidades de crescimento e independência que o regime CLT não proporciona.


O planejamento previdenciário merece atenção especial. A aposentadoria pelo INSS pode ser insuficiente para manter o padrão de vida desejado, tornando fundamental a construção de reservas complementares desde o início da carreira. Quanto mais cedo este planejamento começar, menor será o esforço necessário para garantir uma aposentadoria confortável.


A proteção patrimonial através de seguros adequados não deve ser vista como custo, mas como investimento essencial. A exposição do médico PJ a riscos de responsabilização pode ser significativa, e a proteção adequada pode preservar anos de trabalho e economia.


Recomendo fortemente que todo médico PJ mantenha relacionamento com profissionais especializados: contador com experiência em médicos, advogado especializado em direito médico, e consultor financeiro que compreenda as particularidades da atividade médica. O investimento nestes profissionais se paga através da otimização tributária, proteção jurídica, e planejamento financeiro adequado.


A educação continuada ganha importância ainda maior para o médico PJ. Além da atualização técnica obrigatória, é fundamental desenvolver conhecimentos em gestão, finanças, e aspectos legais da atividade empresarial. O médico PJ bem-sucedido é aquele que consegue equilibrar excelência técnica com competência empresarial.


Por fim, lembro que a medicina continua sendo uma profissão nobre, independentemente da modalidade contratual. O compromisso com a qualidade do atendimento, a ética profissional, e o bem-estar dos pacientes deve permanecer sempre como prioridade máxima. A contratação PJ oferece ferramentas para uma carreira mais próspera e independente, mas nunca deve comprometer os valores fundamentais da medicina.


A era da pessoa jurídica na medicina veio para ficar. Aqueles que se adaptarem adequadamente a esta realidade, desenvolvendo as competências necessárias e adotando as precauções adequadas, encontrarão oportunidades significativas de crescimento profissional e financeiro. O conhecimento é a melhor ferramenta para navegar com segurança neste novo cenário.


Tabelas e Quadros Resumo para Médicos PJ


Comparativo CLT x PJ para Médicos Plantonistas

ASPECTO

CLT

PESSOA JURÍDICA

Remuneração Bruta

Menor

30-50% superior

Tributos

Descontados automaticamente

Responsabilidade do médico

Férias

30 dias remunerados + 1/3

Deve reservar recursos próprios

13º Salário

Garantido

Deve reservar recursos próprios

FGTS

8% depositado pelo empregador

Deve criar reserva própria

Estabilidade

Maior proteção trabalhista

Pode ser rescindido facilmente

Flexibilidade

Limitada a um empregador

Múltiplas instituições

Aposentadoria

INSS + FGTS

INSS + previdência privada

Seguro Saúde

Frequentemente fornecido

Deve contratar individualmente

Responsabilidade Civil

Compartilhada com empregador

Maior exposição individual


Regimes Tributários para Médicos PJ

REGIME

FATURAMENTO ANUAL

ALÍQUOTA APROXIMADA

VANTAGENS

DESVANTAGENS

Simples Nacional

Até R$ 4,8 milhões

6% a 17,42%

Simplicidade, unifica tributos

Limite de faturamento

Lucro Presumido

Sem limite

11,33% a 16,33%

Previsibilidade

Presunção pode ser desvantajosa

Lucro Real

Sem limite

Variável

Tributo sobre lucro real

Complexidade contábil


Checklist Mensal para Médicos PJ

ATIVIDADE

PRAZO

RESPONSÁVEL

Emissão de Notas Fiscais

Até o dia do serviço

Médico

Pagamento de Tributos

Conforme regime escolhido

Médico/Contador

Contribuição INSS

Até dia 15 do mês seguinte

Médico

Reserva para Férias

Todo mês (8,33% do faturamento)

Médico

Reserva para Tributos

Todo mês (conforme regime)

Médico

Conciliação Bancária

Mensalmente

Médico/Contador

Backup de Documentos

Mensalmente

Médico


Custos Típicos do Médico PJ (% do Faturamento)

ITEM

PERCENTUAL APROXIMADO

Tributos (Simples Nacional)

6% a 17%

Contribuição INSS

3% a 5%

Contador

1% a 2%

Seguro Responsabilidade Civil

0,5% a 1%

Reserva para Férias

8,33%

Reserva Emergência

5% a 10%

TOTAL

23% a 43%

Documentos Essenciais para Médicos PJ

DOCUMENTO

FINALIDADE

PRAZO DE GUARDA

Notas Fiscais Emitidas

Comprovação de receita

5 anos

Comprovantes de Pagamento de Tributos

Fiscalização

5 anos

Contratos de Prestação de Serviços

Comprovação de vínculo

Durante vigência + 5 anos

Extratos Bancários

Movimentação financeira

5 anos

Comprovantes INSS

Aposentadoria

Permanente

Certificados de Cursos

Qualificação profissional

Permanente

Apólices de Seguro

Cobertura de riscos

Durante vigência + 5 anos

Sinais de Alerta para Médicos PJ


FINANCEIROS

•Dependência de uma única fonte de renda

•Ausência de reservas para emergência

•Atraso no pagamento de tributos

•Mistura de contas pessoais e empresariais


CONTRATUAIS

•Contratos sem prazo definido

•Ausência de cláusulas de reajuste

•Exclusividade sem compensação adequada

•Falta de definição clara de responsabilidades


OPERACIONAIS

•Sobrecarga de plantões

•Falta de tempo para educação continuada

•Relacionamento conflituoso com instituições

•Ausência de documentação adequada


Erros Comuns de Médicos PJ

  1. Não separar contas pessoais e empresariais

  2. Não fazer reservas para tributos e férias

  3. Depender de uma única fonte de renda

  4. Negligenciar a contribuição previdenciária

  5. Não contratar seguros adequados

  6. Misturar despesas pessoais e empresariais

  7. Não manter documentação organizada

  8. Aceitar contratos sem análise jurídica

  9. Não planejar a aposentadoria

  10. Não buscar orientação profissional especializada


A pejotização do plantão médico não é apenas uma mudança contratual. É, acima de tudo, uma transição de mentalidade. O médico plantonista deixou de ser apenas profissional de saúde e passou a ser também gestor de si mesmo: de sua carreira, de sua segurança jurídica, de seu futuro financeiro. Com informação adequada, planejamento e disciplina, é possível transformar esse modelo em uma oportunidade real de crescimento, estabilidade e autonomia. Adaptar-se ao modelo PJ não é uma opção: é uma exigência do mercado. Mas é possível fazê-lo com segurança e inteligência.

Ricardo Stival é Advogado, Professor de Pós-Graduação de Direito Médico,  Especialista em Ações Judiciais de Erro Médico, Sindicâncias e Processos Éticos no CRM e CRO, com atuação em todo o Brasil
Ricardo Stival - Advogado de Direito Médico

Ricardo Stival - Advogado e Professor de Direito Médico

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