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Acusações Injustas de Assédio Sexual Contra Médicos

  • Foto do escritor: Ricardo Stival
    Ricardo Stival
  • 14 de jun.
  • 13 min de leitura

Atualizado: 15 de jun.

No cenário atual da prática médica emerge um desafio de complexidade crescente e consequências potencialmente devastadoras: o fenômeno do aumento de denúncias de assédio sexual contra médicos. Longe de ser um mero incidente isolado, esta realidade tem se manifestado com uma frequência alarmante, permeando as diversas especialidades e gerando uma atmosfera de apreensão e incerteza entre os profissionais da saúde.


 

Antes de avançarmos na análise dos riscos e estratégias de proteção jurídica e ética, é essencial fazer uma distinção clara e responsável: este artigo não tem como objetivo negar a existência do assédio sexual, nem defender condutas abusivas por parte de médicos. Pelo contrário, parte do compromisso com a ética exige reconhecer a gravidade de tais práticas quando realmente ocorrem — e a necessidade de puni-las com o devido rigor.


No entanto, a prática médica legítima frequentemente envolve situações delicadas que, embora possam gerar desconforto ou mal-entendidos, não configuram assédio sexual, desde que conduzidas com respeito, profissionalismo e amparo técnico. Entre os exemplos que não constituem assédio, destacam-se:


· Exames clínicos íntimos, realizados com consentimento e acompanhamento, por indicação técnica, com os devidos registros;


· Toques médicos necessários durante o exame físico, feitos com técnica, brevidade e sem conotação inadequada;


· Explicações objetivas sobre anatomia, sexualidade ou sintomas, quando relevantes para o diagnóstico ou tratamento;


· Contato visual, tom de voz ou linguagem corporal neutros, mas que podem ser erroneamente interpretados por pacientes em estado de vulnerabilidade ou fragilidade emocional;


· Comentários clínicos que podem parecer invasivos, mas são necessários à anamnese (como perguntas sobre vida sexual, uso de contraceptivos, histórico de abuso, etc.).


Em todas essas situações, o que diferencia uma conduta legítima de uma conduta reprovável não é a natureza do ato em si, mas a intenção, o contexto, a forma de execução e o grau de respeito à autonomia e à dignidade do paciente.


O objetivo deste artigo, portanto, é proteger não o abusador, mas o médico ético, técnico e diligente, que pode ser vítima de uma acusação infundada, equivocada ou desproporcional — e que merece, por isso, ter meios para se resguardar sem ser automaticamente estigmatizado.

 

A natureza intrínseca da relação médico-paciente, alicerçada na confiança e na vulnerabilidade, torna este cenário particularmente delicado, onde a percepção e a interpretação de condutas podem divergir drasticamente, culminando em acusações que, mesmo infundadas, são capazes de erodir reputações construídas ao longo de décadas de dedicação e excelência.

 

Este artigo transcende a superficialidade das discussões comuns, mergulhando nas nuances jurídicas, éticas e práticas que circundam as denúncias de assédio sexual contra médicos. Não se trata de um compêndio de autodefesa, mas de um guia estratégico, forjado na experiência de múltiplos casos e na análise rigorosa do arcabouço legal e regulatório.

 

O objetivo é munir o correto profissional da saúde com o conhecimento e as ferramentas necessárias para navegar por este terreno movediço, desde a implementação de medidas preventivas robustas até a resposta assertiva e tecnicamente embasada diante de uma acusação. Compreender os riscos reais e as condutas corretas em cada etapa – prevenção, atendimento e eventual enfrentamento de uma denúncia – e não apenas uma salvaguarda profissional, mas um imperativo para a manutenção da dignidade e da integridade da prática médica.


A Complexidade da Caracterização do Assédio Sexual no Contexto Médico-Legal


A definição de assédio sexual, especialmente no intrincado universo da medicina, é multifacetada e transcende a mera literalidade de um tipo penal. No Brasil, a ausência de um crime específico de "assédio sexual cometido por médico" direciona a análise para um conjunto de normas e interpretações que se interligam, formando a base para as denúncias e os consequentes processos.


Normativa Legal e Ética


O Código Penal, em seu Art. 216-A, tipifica o assédio sexual como o ato de "assediar sexualmente alguém, com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente de sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerente ao exercício de emprego, cargo ou função". A pena cominada é de detenção de 1 a 2 anos. É crucial notar que, para a configuração deste delito, exige-se a demonstração de uma relação de superioridade hierárquica ou ascendência, elemento que, embora presente em algumas relações médico-paciente (especialmente em contextos de dependência ou vulnerabilidade), não é universal.

 

Em contraste, o Código de Ética Médica (Resolução CFM 2336/2023), em seu Art. 61, adota uma abordagem mais abrangente e rigorosa, vedando ao médico "manter qualquer tipo de relação sexual ou amorosa com pacientes sob sua responsabilidade de atendimento médico". Esta norma ética não exige a comprovação de vantagem ou favorecimento sexual, bastando a existência da relação para configurar a infração. Tal distinção é fundamental, pois permite que uma conduta que não se enquadre como crime possa, ainda assim, resultar em severas sanções ético-profissionais.

 

Além do assédio sexual propriamente dito, as denúncias contra médicos podem se desdobrar em outras tipificações penais e éticas, a depender da natureza da conduta alegada. Dentre elas, destacam-se:

 

· Violação de intimidade e privacidade: Condutas que expõem indevidamente o paciente ou invadem sua esfera privada.


· Ato libidinoso não consentido: Qualquer ato de conotação sexual praticado sem o consentimento expresso e livre do paciente.


· Abuso de incapaz: Situações envolvendo pacientes idosos, pessoas com deficiência ou em estado de vulnerabilidade que são alvo de condutas sexuais abusivas.


· Violência sexual: Um termo guarda-chuva que engloba diversas formas de agressão sexual, incluindo estupro e importunação sexual, com as agravantes previstas em lei quando praticadas por profissionais de saúde.


A Divergência entre Esferas: Ética vs. Penal


A dicotomia entre a esfera ética e a penal é um ponto de atenção crítico para o médico. Conforme mencionado, o Código de Ética Médica possui um escopo mais amplo, permitindo a condenação por "conduta minimamente inadequada", sem a necessidade de prova cabal de um crime. Isso significa que um médico pode ser absolvido na esfera criminal por insuficiência de provas ou por não se configurar o tipo penal, mas ainda assim ser condenado em um processo ético-profissional, com sanções que variam de advertência à cassação do registro profissional. A jurisprudência tem demonstrado essa realidade, onde a responsabilidade civil e ética pode ser mantida mesmo na ausência de condenação criminal.


Essa distinção ressalta a importância de uma conduta profissional impecável e da observância rigorosa das normas éticas, que muitas vezes superam as exigências da lei penal em termos de rigor e abrangência. A simples suspeita, no campo ético, já pode gerar um dano reputacional quase irreversível, mesmo antes de qualquer decisão final.


Comparativo entre Assédio Sexual (Código Penal) e Relação Sexual/Amorosa com Paciente (Código de Ética Médica)

Característica

Assédio Sexual (Art. 216-A CP)

Relação Sexual/Amorosa com Paciente (Art. 40 CEM)

Natureza da Conduta

Constrangimento com intuito de obter vantagem/favorecimento sexual

Manutenção de qualquer tipo de relação sexual ou amorosa

Elemento Subjetivo

Dolo específico (intenção de obter vantagem/favorecimento)

Não exige dolo específico; basta a existência da relação

Relação de Poder

Exige superioridade hierárquica ou ascendência

Não exige relação de poder; basta ser paciente sob sua responsabilidade

Consentimento

Ausência de consentimento da vítima

Mesmo com consentimento, a conduta é vedada eticamente

Esfera de Atuação

Criminal

Ético-Profissional

Pena/Sanção

Detenção (1 a 2 anos)

Advertência, censura, suspensão, cassação do registro

A Escalada dos Riscos: Fatores que Impulsionam as Denúncias


A percepção de um aumento nas denúncias de assédio sexual contra médicos não é infundada. Diversos fatores sociais, culturais e tecnológicos têm contribuído para uma transformação profunda na dinâmica da relação médico-paciente e na forma como as condutas são percebidas e reportadas. Compreender esses vetores é essencial para que o médico possa antecipar e mitigar os riscos.


Conscientização e Empoderamento das Vítimas


Um dos fatores mais proeminentes é o crescente movimento de conscientização e empoderamento das vítimas de assédio e violência sexual. Campanhas sociais, discussões públicas e a maior visibilidade de casos têm encorajado pacientes a se sentirem mais seguras para denunciar comportamentos percebidos como inadequados. Essa mudança cultural, embora positiva para a sociedade, impõe ao profissional de saúde a necessidade de uma conduta ainda mais transparente e irretocável.


O Papel das Redes Sociais e a Viralização de Conteúdo


As redes sociais transformaram-se em um palco onde denúncias, muitas vezes sem a devida apuração, podem viralizar em questão de horas. Um episódio isolado, uma interpretação equivocada ou mesmo uma acusação infundada pode ganhar proporções incontroláveis, gerando um linchamento virtual e um dano reputacional quase irreversível, mesmo antes de qualquer denúncia formal às autoridades competentes. A velocidade e o alcance da informação nas redes sociais exigem do médico uma atenção redobrada à sua imagem e conduta pública.


A Subjetividade do Conceito de "Assédio" e a Má Interpretação de Condutas


O conceito de "assédio" pode ser subjetivo e variar conforme a percepção individual. É comum que pacientes, em um estado de vulnerabilidade física e emocional, interpretem determinados exames, procedimentos ou até mesmo condutas verbais de forma equivocada ou distorcida. Um toque profissional necessário, uma pergunta clínica ou uma orientação podem ser mal interpretados como uma investida sexual, especialmente em um contexto de ansiedade ou medo. Essa subjetividade exige do médico uma comunicação extremamente clara, empática e técnica, minimizando margens para interpretações errôneas.


Ambientes de Atendimento Vulneráveis e a Ausência de Provas


A falta de acompanhante durante o atendimento, a ausência de registros detalhados no prontuário ou a inexistência de mecanismos de gravação autorizada criam ambientes propícios para alegações sem prova. Em situações onde a palavra do paciente se contrapõe à do médico, a ausência de elementos comprobatórios pode pender a balança a favor do denunciante, especialmente em um cenário de maior sensibilidade social ao tema. A vulnerabilidade do ambiente de atendimento, portanto, não se restringe apenas ao paciente, mas se estende ao profissional que atua sem as devidas salvaguardas.

 

Nesse sentido, vale a indicação para que que clínicas considerem protocolo escrito interno de segurança para esse tipo de situação (regras para exames íntimos, presença obrigatória de acompanhante, treinamentos).


Pressão Midiática e a Postura das Instituições


A pressão midiática e a crescente cobrança social por uma postura mais rígida contra o assédio têm levado Conselhos de Medicina, hospitais e clínicas a adotarem posturas mais severas e punitivas. Em muitos casos, a simples denúncia já desencadeia processos internos e éticos, mesmo em situações dúbias ou com indícios frágeis. Essa postura, embora compreensível do ponto de vista da proteção às vítimas, pode gerar um ambiente de insegurança para o médico, que se vê submetido a um escrutínio intenso e a um risco de condenação mesmo sem provas robustas.

 

Esses fatores, em conjunto, criam um cenário complexo onde a prevenção e o cuidado com a comunicação, o registro e a conduta profissional tornam-se tão importantes quanto a excelência técnica da prática médica. A era atual exige do médico não apenas a maestria em sua arte, mas também uma consciência aguçada dos riscos jurídicos e éticos que permeiam sua atuação.


Estratégias de Proteção na Prática: A Conduta Preventiva como Pilar da Segurança Jurídica e Ética


A principal linha de defesa do médico contra denúncias de assédio sexual reside na prevenção. Não se trata de exercer a medicina com receio, mas com uma consciência aguçada dos riscos e a adoção de um método rigoroso que minimize as vulnerabilidades. As boas práticas a seguir, embasadas em experiência prática e na análise de casos reais, constituem um manual de proteção indispensável.


O Imperativo do Atendimento com Acompanhante


A presença de um acompanhante durante o atendimento é, sem dúvida, uma das medidas preventivas mais eficazes. Sempre que a natureza do procedimento ou a condição do paciente permitir, a presença de um profissional da saúde (enfermeira, técnica de enfermagem, assistente) ou de um familiar/responsável legal do paciente deve ser incentivada e, em muitos casos, exigida. Esta prática é indispensável em:


· Exames íntimos: Ginecologia, urologia, proctologia, dermatologia em áreas sensíveis.


· Atendimentos a pacientes vulneráveis: Crianças, adolescentes, idosos, pessoas com deficiência, pacientes com transtornos psiquiátricos ou em estado de sedação/inconsciência.


· Procedimentos invasivos ou que exijam exposição corporal: Cirurgias, procedimentos estéticos, etc.

A presença de um terceiro serve como testemunha imparcial da conduta médica, desestimulando acusações infundadas e fornecendo um respaldo crucial em caso de litígio. É fundamental que a presença do acompanhante seja registrada no prontuário, com a identificação completa da pessoa e a confirmação de seu consentimento.


O Prontuário Médico como Escudo Legal: Registro Detalhado e Objetivo


O prontuário médico é um documento de valor inestimável, servindo não apenas como ferramenta clínica, mas como prova legal da conduta do profissional. A anotação detalhada e objetiva de tudo o que ocorre durante a consulta ou procedimento é uma salvaguarda essencial. Recomenda-se registrar:


· Presença de acompanhante: Nome completo, grau de parentesco/relação com o paciente e confirmação de sua presença durante o atendimento.


· Consentimento do paciente: Registrar que o paciente foi informado sobre o procedimento, compreendeu e consentiu com sua realização. Em casos mais sensíveis, o consentimento informado por escrito é altamente recomendável.


· Descrição minuciosa de exames e procedimentos: Em exames íntimos ou procedimentos que envolvam exposição corporal, especificar claramente o que foi examinado, o porquê da conduta e os achados. Evitar termos vagos ou genéricos.


· Comunicação: Anotar informações relevantes sobre a comunicação com o paciente, incluindo orientações fornecidas e dúvidas esclarecidas.


Um prontuário completo e bem preenchido é uma ferramenta poderosa para refutar alegações de conduta inadequada, demonstrando a diligência e a ética do profissional.


O Consentimento Informado: Mais que um Documento, um Processo


O consentimento informado vai além da mera assinatura de um documento; é um processo contínuo de comunicação e esclarecimento. O médico deve sempre explicar previamente ao paciente o que será feito, como será feito, os riscos e benefícios, e as alternativas existentes. É fundamental garantir que o paciente compreendeu integralmente as informações e concordou livremente com o procedimento. Em situações de maior risco ou sensibilidade, a obtenção do consentimento por escrito, com a assinatura do paciente e, se possível, de uma testemunha, confere maior segurança jurídica.


Linguagem e Postura Profissional: A Arte da Comunicação Não Verbal


A linguagem verbal e não verbal do médico desempenha um papel crucial na prevenção de mal-entendidos e denúncias. Manter uma postura formal, respeitosa e objetiva é fundamental. Evitar qualquer comentário de cunho pessoal, mesmo que pareça inofensivo ou bem-intencionado, é uma regra de ouro. Pequenos gestos, como toques involuntários ou uma linguagem corporal ambígua, podem ser mal interpretados, especialmente por pacientes em estado de vulnerabilidade. A atenção à comunicação não verbal, à distância física adequada e à objetividade nas interações são elementos essenciais para transmitir profissionalismo e evitar qualquer conotação indevida.


Gravação Autorizada: Uma Ferramenta de Transparência e Proteção


Em ambientes de alto risco, como consultórios psiquiátricos, ginecológicos ou obstétricos, a gravação audiovisual da consulta, com a devida autorização do paciente, pode ser uma ferramenta valiosa de proteção. Embora ainda não seja uma prática amplamente difundida, a tecnologia permite o registro transparente da interação, fornecendo provas irrefutáveis em caso de denúncia. É imperativo que essa prática seja realizada em conformidade com a legislação de proteção de dados e com o consentimento livre e informado do paciente, garantindo a privacidade e a confidencialidade das informações.


A Resposta Estratégica Diante de uma Denúncia: Como Agir Corretamente


Mesmo com a adoção rigorosa de todas as medidas preventivas, nenhum médico está imune a ser alvo de uma denúncia. Se essa situação, infelizmente, ocorrer, a forma como o profissional reage nos primeiros momentos é determinante para o desfecho do caso. A calma, a racionalidade e a busca por orientação especializada são os pilares de uma resposta estratégica.


Mantenha a Calma e Evite o Contato Direto com o Denunciante


A primeira e mais importante regra é manter a calma e, sob nenhuma circunstância, tentar resolver a situação por conta própria ou entrar em contato direto com o denunciante. Qualquer comunicação, por mais bem-intencionada que seja, pode ser mal interpretada, distorcida ou utilizada como prova contra o médico. A emoção do momento pode levar a atitudes impensadas que comprometem irremediavelmente a defesa.


Preserve Todas as Provas e Evite Alterações


A preservação de todas as provas relacionadas ao atendimento e à denúncia é crucial. Isso inclui prontuários médicos, gravações (se houver e forem autorizadas), mensagens, e-mails, registros de agenda, termos de consentimento e qualquer outro documento que possa corroborar a versão dos fatos. É imperativo não alterar, destruir ou manipular qualquer documento, pois tal conduta seria interpretada como tentativa de obstrução da justiça e agravaria significativamente a situação do médico.


Comunique Formalmente a Instituição e Busque Apoio


Se o atendimento ocorreu em um hospital, clínica ou outra instituição de saúde, é fundamental comunicar formalmente a direção ou o departamento jurídico sobre a denúncia. Essa comunicação não apenas cumpre um dever institucional, mas também permite que a instituição tome as medidas cabíveis e ofereça o suporte necessário ao profissional. A omissão pode ser interpretada como negligência e agravar a situação.


Acione Imediatamente o Advogado Especializado


Diante de uma denúncia, a primeira e mais importante medida é acionar imediatamente um advogado especializado em Direito Médico. Somente um profissional com expertise na área poderá orientar o médico sobre os passos legais a serem seguidos, analisar a denúncia, coletar provas, elaborar a defesa e representá-lo em todas as esferas (administrativa, ética, cível e criminal). A atuação precoce do advogado é fundamental para evitar erros que possam comprometer a defesa e para garantir que os direitos do médico sejam integralmente preservados.


Prepare a Defesa Técnica e Embasada


A defesa deve ser técnica, objetiva e embasada em fatos e provas. É fundamental apresentar uma narrativa clara e coerente dos acontecimentos, refutando as alegações da denúncia com base em registros do prontuário, testemunhos, gravações (se houver) e qualquer outro elemento que comprove a regularidade da conduta médica. A defesa não deve se basear em argumentos emocionais ou subjetivos, mas sim na demonstração da conformidade da conduta com as normas éticas e legais.


As Consequências de uma Denúncia: Além da Esfera Jurídica

As consequências de uma denúncia de assédio sexual contra um médico transcendem a esfera jurídica, impactando profundamente a vida pessoal e profissional do acusado. Compreender a amplitude desses impactos é fundamental para a adoção de medidas preventivas e para a preparação para o enfrentamento de uma eventual acusação.


Dano Reputacional e Profissional

Mesmo que a denúncia seja infundada e o médico seja absolvido em todas as esferas, o dano à reputação pode ser irreversível. A exposição midiática, a viralização em redes sociais e o estigma associado a acusações de assédio sexual podem comprometer a carreira do profissional, afastando pacientes e colegas, e dificultando a inserção em novas oportunidades de trabalho. A construção de uma reputação leva anos, mas sua destruição pode ocorrer em questão de dias.


Impacto Psicológico e Emocional

O enfrentamento de uma denúncia de assédio sexual é uma experiência extremamente estressante e traumática. A ansiedade, o medo, a raiva, a frustração e a sensação de injustiça podem levar a problemas psicológicos e emocionais, como depressão, síndrome do pânico e burnout. O suporte psicológico e emocional é fundamental para que o médico possa lidar com o impacto da denúncia e preservar sua saúde mental.


Custos Financeiros

Os custos financeiros de uma denúncia de assédio sexual podem ser exorbitantes, envolvendo honorários advocatícios, custas processuais, indenizações (em caso de condenação cível) e perda de rendimentos devido ao afastamento da atividade profissional. A proteção jurídica e o seguro de responsabilidade civil profissional são ferramentas essenciais para mitigar esses riscos financeiros.


A Imperatividade da Prevenção e da Preparação


O cenário atual da prática médica exige do profissional uma consciência aguçada dos riscos e uma postura proativa na prevenção de denúncias de assédio sexual. A adoção de medidas preventivas robustas, a observância rigorosa das normas éticas e legais, e a preparação para uma resposta estratégica diante de uma eventual acusação são imperativos para a proteção da dignidade e da integridade da prática médica.


Essas orientações, forjado na experiência e na análise rigorosa do arcabouço legal e ético, visa munir o médico com as ferramentas necessárias para navegar por este terreno movediço.


Checklist de Boas Práticas para Prevenção de Denúncias de Assédio Sexual

Categoria

Ação Preventiva

Detalhes e Observações

Atendimento

Atender com acompanhante sempre que possível

Essencial em exames íntimos, pacientes vulneráveis. Registrar no prontuário.

Documentação

Manter prontuário detalhado e objetivo

Registrar presença de acompanhante, consentimento, descrição minuciosa de procedimentos.

Comunicação

Obter consentimento informado (processo contínuo)

Explicar riscos, benefícios, alternativas. Obter por escrito em casos sensíveis.

Postura

Adotar linguagem e postura profissional impecáveis

Evitar comentários pessoais, toques ambíguos. Manter distância física adequada.

Tecnologia

Considerar gravação autorizada em ambientes de alto risco

Com consentimento livre e informado do paciente. Conforme LGPD.

Em um cenário onde a reputação do médico pode ser colocada em risco por uma simples denúncia, compreender as nuances éticas, jurídicas e relacionais da prática médica tornou-se essencial. A abordagem aqui desenvolvida busca justamente oferecer esse entendimento, destacando a importância da prevenção, da conduta técnica irrepreensível e da resposta estratégica como pilares de proteção e serenidade no exercício da Medicina.

Ricardo Stival é Advogado, Professor de Pós-Graduação de Direito Médico,  Especialista em Ações Judiciais de Erro Médico, Sindicâncias e Processos Éticos no CRM e CRO, com atuação em todo o Brasil
Ricardo Stival - Advogado de Direito Médico

Ricardo Stival - Advogado e Professor de Direito Médico

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